Estas sensações são Tônica (repouso), Subdominante(afastamento) e Dominante(preparação), respectivamente. Ao solfejarmos, as trocas de função, normalmente usamos os graus comuns ou conjuntos para facilitar, evitando saltos, ou seja, notas comuns que se repetem na outra função ou as nota mais próximas na escala.
Notamos que estas 3 funções contém todas as 7 notas do tom e formam 3 acordes, os acordes do I grau (135), IV grau (461) e V grau (572). Cada nota do tom pertence a algum deles e bastam estes 3 acordes para se obter as 3 funções existentes, por isso, são chamados de graus tonais e harmonizam qualquer música tonal.
Vemos que algumas notas se repetem em funções diferentes, ou seja, possuem função dupla e, por isso, as funções são mais fortes nas notas onde isto não acontece, normalmente, nas duas primeiras notas do acorde do grau tonal representante, assim, 1 e 3 representam melhor a função Tônica, 4 e 6 a Subdominante e 5 e 7 a Dominante.
Ao superpor as 3as de uma escala para a formação dos acordes, percebemos que a mesma função vai se repetindo nesta escala, nota sim, nota não. Mas, ao se afastar da primeira nota do acorde, vão mudando a função. Se esta distância influencia, ainda dentro das tríades dos graus tonais, com as tétrades e tensões não pode ser diferente. Por isso, as tríades são os acordes que têm mais força para representar suas funções. Isto também acontece com as de tensão adicionada em relação às tétrades com tensão.
A instrumentação, o estilo e o arranjo são fatores determinantes para a escolha do tipo de harmonização que se fará. A instrumentação pode precisar reforçar certas notas para que os harmônicos soem ou afinem melhor; o Estilo, pode necessitar deixar clara ou obscura a intenção do discurso harmônico; no Arranjo, pode-se querer aumentar ou diminuir a força de um acorde, reforçar uma linha melódica, deixar clara uma escala ou intenção, trabalhar densidades, texturas e contextos de forma favorável ou contrária a melodia.
Conhecer as notas e suas funções nos permite saber reconstruir ou desconstruir o tonalismo. Seria um erro pensar que, sobre uma nota fá, não se toca um acorde de C maior por nele não "caber" o 4 grau, que está meio-tom acima da III, nota do acorde. Ao pensarmos de forma melódica, concluímos que, se existe um fá que deve ser harmonizado, é o acorde de C que não traduz a função correta da melodia e por isso, não "cabe".
Se pensarmos como um improvisador e de maneira a reforçar o tonalismo, devemos usar as notas que não possuem a mesma função, como notas de passagem. Assim, evitaríamos tocar longamente sobre um acorde de C, a nota fá, não porque soaria "errada", mas porque não deixaria clara sua função tonal. Ao pensarmos como um arranjador, podemos querer tensionar a harmonia ou simplesmente abandonar o tonalismo e num acorde de C4, com Mi e Fá, mesmo estando a meio-tom de distância e tendo funções diferentes, fazê-lo soar muito bem.
Então, não se engane. Não existe certo nem errado em harmonia. Existe usado e não usado, pensado e não pensado, e, principalmente, percebido e não percebido.
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