Certa vez, um maestro que assumira o cargo de secretário de cultura de sua cidade natal, onde voltara a morar depois de se aposentar, contava a um repórter do canal Futura, a evolução, perceptível, que as crianças das escolas públicas estavam experimentando ao entrarem em contato com a música, nas aulas que haviam sido implementadas em sua gestão.
As aulas dividiam-se em teóricas, práticas de instrumento e de conjunto, onde tocavam e se apresentavam, durante um tempo, com um instrumento de orquestra e, ao final do período, trocavam por outro, fazendo com que, cada aluno, passasse por todos os instrumentos ensinados. Os diretores e pais, comentavam, sobre a melhora em seu desempenho global, concentração e, até mesmo, comportamento e cooperação.
Perguntado se as crianças teriam futuro na música, o maestro respondeu que mais importante que formar músicos era formar ouvintes. As crianças passavam a conhecer mais sobre música, inclusive, sobre as que ouviam. Criava-se ali, a oportunidade de formar um gosto e uma opinião própria.
Assim, entendo que o ouvido que “pensa”, pode querer uma música “cabeça” ou, num momento de lazer, uma música para “balançar o esqueleto”, o entretenimento não deveria ser um fator limitante e, sim, mais uma oferta. O indivíduo que teve o “ouvido treinado”, sabe que esta não pode ser a única oferta e, muito menos, a única demanda, afinal quanto mais diversificadas elas forem, mais poderão fomentar a diversidade da expressão musical. A arte é, normalmente, profunda e muito abrangente enquanto o mercado é restrito e superficial, por isso, alguém antenado deve aprender a reconhecer e lidar com essa oferta demasiada, sem ser, de forma alguma, excludente, pois existem casos de concomitância.
A música Clássica, Erudita, Instrumental, Choro, Samba, MPB, Forró, Rock, Jazz, Blues, Soul, Pop, Reggae, Pagode, Sertanejo e suas misturas, são um pequeno e, por rotular, limitado exemplo da extensa diversidade cultural musical a que temos acesso nos circuitos de programação pelo Brasil afora. Conhecê-los gera novas experiências e, se pensarmos bem, sua existência significa que existe público que demanda, frequenta e se identifica com eles.
Sua grande variedade é desproporcional a sua presença nos grandes canais de comunicação, pois estes têm orientação, exclusivamente, mercadológica e não cultural. A possibilidade da identificação de crianças que viveram esta formação cultural, com um artista ou gênero musical, além de saciar o gosto musical, futuramente, pode criar nichos que poderiam ser melhor aproveitados num mercado menos concentrador.
Nosso acesso a novos músicos criando, gravando, divulgando e apresentando suas produções, era muito limitado e só se tornou possível por conta da internet que “democratizou” a demanda cultural, porém hoje, também já tem seu modelo de mercado e procura direcionar nossas buscas. Navegar é preciso!!!
Vivemos numa época em que buscamos muitas recompensas pelo nosso trabalho e sempre temos a justificativa do “eu também sou filho de Deus”. Não temos paciência para digerir um livro, um disco, nem para esperar um microondas terminar de esquentar uma lasanha industrializada. Por isso, acabamos consumindo enlatados, música engessada, congelada e "sem sal". Através da experiência relatada pelo maestro, podemos perceber como é importante que não sejamos tão passivos e tenhamos, nas mãos, as rédeas do que ouvimos, para o nosso amadurecimento e das futuras gerações.
Aproveitando esta época eleitoral, desejo a todos que tenham muita consciência e os convido a pensar como seria aplicação desta experiência em escala nacional? Seria um salto qualitativo para nossa sociedade? Política de verdade? Afinal a educação questiona, transforma e liberta, não é?
Até a próxima!!!
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