Ouvi uma vez que só existiam dois tipos de música: a boa e a ruim. Mas não aprendi, nesta mesma oportunidade, a forma de distingui-las. Obviamente, cada um de nós sabe quais músicas e gêneros que mais nos agradam ou desagradam. Por isso, apesar de todos concordarmos com tal afirmação, devido a sua subjetividade, não é possível se definir através dela, qual é qual, para separarmos o joio do trigo.
O que é bom? É o que está na mídia? Não? Então, seria o que não está? Qualquer música que não está na mídia é boa? E as que estão, todas são ruins? Dizia um slogan do canal futura que não são as respostas que movem o homem e, sim, as perguntas. Então, ao invés de uma resposta, a forma mais segura de lidar com tais questões, é nos manter questionando.
Quem poderia nos dizer o que é bom? Um crítico? Será que ele teria condições técnicas de fazer essa avaliação? Um professor? O que mais deve agradar num artista é sua capacidade técnica? O que deveria ser avaliado? Emoção, afinação, beleza, vendagem, likes, carisma, atitudes, etc? Sua vida pessoal seria importante? Sua posição política e ideológica?
É difícil imaginar que alguém consiga nos agradar 100%. Às vezes, também, não gostamos de algo que várias pessoas a nossa volta gostam. Afinal, gosto é gosto. E a partir daí, passando pelo inevitável bordão: “É impossível agradar a todos”, chegamos à maior desconstrução histórica da arte e da cultura, onde, ao invés de se reinventar, artisticamente - de dentro para fora, pseudo-artistas passam a se modelar de fora para dentro.
A arte e o entretenimento, que trilhavam caminhos muito estreitos, e que se relacionavam e se confundiam nos primórdios da nossa civilização, passaram a caminhar paralelamente. Na Grécia, a arte era chamada de musa e servia para que o homem, um ser incompleto, pudesse sentir-se pleno, ao se conectar ao divino e, assim, tornar-se parte do todo.
Hoje, quando se preocupa demais em ser vendável ou com a audiência, ou, ao contrário, quando alguém se entende como uma unanimidade eterna (divindade) e pensa que pode fazer qualquer coisa, o artista quebra o contrato, que foi feito de forma tácita, onde o público lhe elegeu narrador de suas aventuras, contador de casos, causos e piadas, dançarino, intérprete, etc. Por sua forma original de fazer ou refazer algo, por sua singularidade, de onde vem sua arte e, por causa dela, a admiração de todos.
Como já escrevi outra vez, citando meu amigo Beto Silva: “O artista só é artista quando atua.” E essa atuação no dia-a-dia, vai além de criar e apresentar novidades, ela é toda sua rede, sua sede de saber, conhecer e experimentar, seja na vida acadêmica, teórica ou prática, somada ao seu interesse, não apenas de viver essas aventuras, mas principalmente, de dividi-las.
Ao questionar a vida e a si mesmo, reinventar frases, palavras e significados, assim como sua própria visão de mundo, “observando e absorvendo”, como diria Eduardo Marinho, o artista torna-se capaz de mudar de dentro para fora e, ainda assim, ser ele mesmo, afinal, isso é o próprio amadurecimento. E sua arte é seu fruto, fruto da sua experiência. E, acima de tudo, é genuína, legítima, autêntica e verdadeira.
Estes dois tipos de música, representam dois mundos paralelos em nossa arte, o primeiro, onde o artista é alguém que cria (mesmo quando copia) e segue seus impulsos e intuição, esteja ou não na mídia, sendo sempre alguém que produz e o segundo, onde o “artista” se esforça para atender as demandas do mercado e ser quem o público e a mídia quer, tornando-se um produto, que só tem valor enquanto se dispõe a estar à venda.
Há quem diga que já foi preciso escolher entre os prazeres mundanos da fama e a imortalidade da obra. Mas, creio que uma postura tão polarizada não seja mais necessária nos dias atuais. Quando se está começando, muitas vezes é preciso se fazer concessões, principalmente, quem já vive exclusivamente de arte, porém, quase sempre, é perceptível tanto para o público quanto para os colegas do meio, o seu esforço em andar com um pé em cada mundo.
Não é preciso escolher um dos lados, não é uma batalha. Mas é preciso estar sempre vigilante e questionando a si, as oportunidades e ao mundo. Lembrando que o amor é o melhor terreno para se construir qualquer coisa, pois é fértil e busca sempre o crescimento. Se essa constante inquietação andar de mãos dadas ao amor, buscaremos sempre um melhor caminho e um entendimento, fugindo do vazio e dos excessos do ego.
Aproveitem o carnaval com essa moderação!!! Até a próxima!!!
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