Esses dias, no facebook, vi uma foto de uma fita cassete com uma frase mais ou menos assim: “Era com esse pendrive que nossos pais faziam download das músicas da rádio.” Achei a analogia perfeita! E me fez pensar no quanto era difícil, para nós, obter uma música, ou ainda, saber quem cantava, quem eram os músicos que tocavam, de quem era o solo da guitarra, do sax ou sei lá... O tape-deck era a única forma de registrar aquela música ou parte dela, pra depois correr atrás e mostrar pra tia, vizinho, primo, amigo pra saber quem tinha alguma pista.
Se encontrar essas informações era difícil, imagina saber qual era o violão que os caras tocavam, quais os efeitos que usavam na guitarra, qual o amplificador, teclado, equipamento... Também era quase impossível ter acesso a uma partitura ou tablatura, para saber exatamente como era a digitação no braço, a palhetada ou o dedilhado. Tínhamos que “tirar de ouvido”, aprender a regular o instrumento ou efeito sozinhos, buscando o som.
Hoje a garotada tem muita informação e tendo a achar que isso é bom, pois eles têm muito mais acesso à coisas que, na época, poderíamos demorar anos para saber. Porém, existe uma desvantagem que eu divido em duas partes: falta de vontade e excesso de informação. Quando conseguimos algo sem esforço, normalmente não valorizamos, Freud explica fácil! E quando existe um google (dez elevado a dez bilhões) de informações, muitas vezes o que é importante passa despercebido na nossa frente.
Existe um filme do Gene Hackman, no qual ele e sua filha são advogados e atuam em lados opostos, ele defende vítmas de acidentes e ela a compania de carros. Ele solicita, em juízo, um relatório que pode ser a chave para vencerem o caso e ela envia todos os relatórios existentes na empresa e fora da ordem. E ele percebe que, mesmo juntando toda sua equipe, não encontraria o documento a tempo. Que menina malcriada, né?
Pois é, essa foi a estratégia de não dar a informação, dando muito mais do que o necessário. O final do filme vocês vêem... O nome é “Julgamento final”.
Noto, compondo, que tudo que utilizo na minha composição, fica gravado em mim, impresso. É como se dali em diante aquele acorde, ritmo ou frase passasse a ser minha propriedade e passo a reconhecê-lo melhor, sempre que ouço. Por isso, na minha linha pedagógica, defendo que o estudo da música deve ser abordado através da composição. Isso faz com que a informação recebida seja usada e se transforme em conhecimento. Mesmo para os alunos que já definiram que serão executores (players), pois a boa interpretação vem da compreensão do discurso que será executado.
Nas aulas, percebo muitas vezes que o aluno tem bastante conhecimento e pouca conexão entre seus saberes, não há uma linha construtiva do conhecimento, uma base sobre a qual erguemos os pilares. Coisas bobas como: o som não se propaga no vácuo, ou seja, sabe aquela explosão do filme? Não teria som... O som é uma onda mecânica, ou seja, qualquer alteração no seu meio, que é o ar, pode alterá-lo. Cante na frente de um ventilador... A amplitude da audição humana é de 20 a 20.000 Hz, mas existe som abaixo e acima disso, chamados de infra e ultra-som, respectivamente. Sabe aquele apito que ninguém ouve? O cachorro ouve. E é chato. Irrita o bicho... A nossa musica é feita sobre freqüências definidas, o que não está muito definido, chamamos de ruído.
Então, além do silêncio e do som (definido) que darão origem a música (ritmo, melodia e harmonia) ainda existem condições fisiológicas, psicológicas e culturais.
No Ocidente, chamamos de uníssono quando todos tocam ou cantam a mesma nota ao mesmo tempo, porém, como não somos robôs, ninguém consegue iniciar e acabar no mesmo milésimo de segundo, tampouco tocar cravado o Lá 440Hz - por exemplo. Por isso, nossa percepção acochambra...
Existe uma história que, num país do Oriente, durante um solo enlouquecido de violino, de uma música dificílima de Paganinni, o solista foi ovacionado e enquanto, na parte mais tranquila, a música foi vaiada, pois eles ouviam notas diferentes entre os violinos da orquestra, que tocavam, acreditem, em uníssono! Vai dormir com um barulho desses!
Até a próxima!
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