Há algum tempo se pode viver da música. Desde que foi criada uma indústria, isso tornou-se possível. Mas nesta selva, a maioria das profissões que vive dela, não é a de músico e, sim, advogados, contadores, empresários... Uma gama imensa de profissionais que criam, investem, divulgam, vendem, consomem, recolhem e repassam direito autoral. O músico é só um pequeno pedaço deste enorme processo.
Não se trata de uma queixa, mas de uma constatação. As dinâmicas da sociedade se transformaram e criaram necessidades e espaço para profissões que se relacionam com a música, dependem dela, mas que são distantes dela e de seu dia-a-dia. Há um século, não havia radialistas, comentaristas, DJs, MCs, tampouco gerente de arrecadação de direito autoral...
É bom que se diga que o músico não é o dono da Música, embora, em muitos casos, nos portemos como seus porta-vozes. Talvez, isso se dê, por fazermos a conexão entre o imaterial e o material e, por isso, nos sintamos no direito de defendê-la, apesar disso ser, de fato, muito subjetivo.
Em nossa sociedade, há espaço para um publicitário, dizer para um músico, que a sua música não está boa, para um empresário decidir quem entra ou sai, quem toca ou não. Enquanto para alguns isso é lógico, faz parte das regras do mercado e da vida, para outros, viver para a música o seria.
Obviamente, viver para alguma coisa, sugere algo mais nobre. Uma atitude altruísta, de doação. Que só pode acontecer se questões muito básicas, relacionadas à dignidade, também acontecessem.
Para que alguém possa se dedicar, exclusivamente, a uma carreira, é preciso que sua mente esteja tranquila, sem preocupações sobre suas contas... A satisfação e a motivação para trabalhar, vêm, tantas vezes, de algo simples de se alcançar, longe do luxo, mas que muitos, não fazem ideia de que pode estar faltando a este ou àquele trabalhador.
A vida glamurosa que as TVs e revistas insistem em mostrar, retratam a realidade de uma minoria. Historicamente, o músico era alguém da tribo que além de seus afazeres, nas ocasiões festivas do calendário cantava ou tocava seu instrumento. A música já estava presente na vida do ser humano há milhares de anos.
Com o passar do tempo, o aumento da população, da concentração de renda e as especializações de cada profissão, os músicos passaram a atuar também nas cortes e palácios, onde eram pagos para serem músicos. Vale lembrar que, em sua maioria, este pagamento consistia apenas no sustento básico: moradia, alimentação e vestuário.
O patrocínio sempre teve grande importância no incentivo aos artistas. Posteriormente, através das instituições e criação de cargos públicos, eles passaram a receber salário e ter seus direitos. Apesar disso, muitos músicos conhecidos aqui no Brasil, não tiravam seu sustento da música.
Por mais genial que fosse, nem sempre, o músico obtinha sucesso financeiro. Em sua maior parte, conseguiam fama, ou então, reconhecimento do trabalho ou da obra. Só depois dos Beatles, época da criação da indústria, já no século XX, é que foi possível, para alguns, fazer fortuna através dela.
Apesar das histórias sobre a boemia, traições e confusão, a maioria dos músicos vive uma vida comum, imerso nas partituras, nos compromissos e prazos da profissão. Só quem é, tem vizinho ou músico na família, sabe o quanto se estuda, para que um trecho que dura segundos, fique perfeito.
Por isso, em alguns países, existe a prática de complementar a renda do músico, baseando-se no cachê que recebe no mês, assim o profissional consegue equilibrar suas contas e dedicar-se ao trabalho. Esta é uma forma de fomentar e estimular novos músicos a entrarem no mercado.
Essa discussão é análoga a quase todas as profissões e deveria acontecer em diversas esferas, afinal, o mercado tornou-se indústria e isso abrange tudo - desde o pão até a medicina. Tudo virou produto industrial. Com uma prática que, embrulha e manda, que afasta os profissionais do vínculo e do afeto. Estamos imersos nesta sociedade e, por isso, não conseguimos nos afastar o suficiente para entender de onde estamos vindo e para onde vamos. É, realmente, difícil!
Mas vamos ficar atentos e vamos dialogar! Cada um tem sua visão, mas a história que escrevemos é a mesma. Vamos ouvir, refletir e, principalmente, por em prática nossas palavras? Juntos!!!
Até a próxima e um 2017 de muita luz e mudanças!!!
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