quinta-feira, 27 de abril de 2017

Coluna de Dezembro/16 para o Jornal Portal

Gostaria de agradecer imensamente a Renata Couto e ao Ricardo Malize, pelo sarau “Baú de cordas”, evento do jornal Portal, realizado no dia 18 de Novembro, no qual tive o prazer de mostrar junto com meu amigo, parceiro e irmão Vicente Paschoal, nossas composições.
Apesar de tocar, profissionalmente, há mais de 20 anos, ter feito apresentações em várias cidades do Brasil e, até, lá fora, mostrar o lado autoral não é fácil. Estava muito nervoso. E de lá para cá, tenho tentado elaborar alguma explicação: Será falta de prática, que gera falta de intimidade com as canções e a sensação de insegurança? Será o fato de expor demais minha intimidade ao expor uma canção autoral? Será que as composições são como filhos, que apesar de conhecermos seus limites, amamos incondicionalmente e não queremos ver ninguém desdenhar ou proferir qualquer julgamento? Espero conseguir respostas...
Queria agradecer também às pessoas que nos prestigiaram com sua presença e que se mantiveram atentas por mais de uma hora, nos emprestando seus ouvidos e corações, apesar de ser uma apresentação considerada difícil, sem músicas conhecidas, sem refrões e sem lalaiá... Tive a grata surpresa de perceber o quanto havia ali, pessoas disponíveis a desbravar o novo, tatear no escuro e conhecer o que para nós era um tesouro guardado no baú.
Nesses baús, guardamos lembranças que trazem e geram sentimentos comuns a todos e que são parte natural de nossas vidas. Mas, por algum motivo, alguns de nós nascem com uma inquietação constante. Um incômodo no peito e nas ideias que só se aquieta quando colocado para fora, como um grito ou um choro, algo que está preso na garganta e precisa se libertar. Uma necessidade, que por ser abstrata, pode fluir através de diversas formas de expressão como a música, a letra, a poesia, a pintura, o canto, interpretação cênica, etc. Até mesmo de um texto, como é o caso deste.
Também é interessante observar que, por ser natural, segue seus próprios caminhos, como a água que vai para o rio e dali para o mar. Por mais que passe por elaborações da nossa mente, formas consideradas boas ou não, toda essa inquietação tem um destino certo - O outro. E é tão importante poder mostrar e dividir, como, para o outro, ouvir, saber que existe, identificar-se com esta inquietação, pois muitas vezes, é através de alguém, que conseguimos manifestar nossas angústias ou então, não conseguiríamos.
Digo isso porque na maioria das vezes eu sou o outro e, embora nem sempre tenha tido o prazer de conhecer pessoalmente os responsáveis, tive a sorte de conhecer suas obras e experimentar a sensação de gratidão, pois vivendo e compartilhando sua arte me fizeram sentir; disseram o que eu precisava ouvir ou, até mesmo, me ajudaram a verbalizar o que sentia e precisava dizer em muitas situações.
Tive muitos professores na arte, professores de música e de vida, artistas que não conheci, mas que me ensinaram através do seu olhar, como proceder, como reagir, o que vale a pena, o que não, etc. A arte nos conecta e auxilia. Além destes mestres, outra forma de conexão e aprendizado também acontece através dos parceiros e artistas contemporâneos que são referências, onde é possível haver um espelhamento: Se o artista que admiro, reconhece o que eu faço e me reconhece como um artista, então eu sou um artista.
Sendo assim, agradeço também aos meus parceiros, que me fizeram compositor ao me reconhecerem como tal: Vicente Paschoal, Dario Tavares, Sergio Machado, Nanando Silva, Marcelo Biar e Ricardo Dias, através dos quais faço representar a todos os outros que não poderei citar, pois tornaria a leitura enfadonha.
Vou aceitando devagar e humildemente essa missão, pensando, também, que, talvez, seja uma forma de ser menos egoísta e mais generoso. Se não for porque acho o que faço maravilhoso e imprescindível, que seja porque entendo que outros se reconhecerão e poderão extravasar seus fantasmas, através dessa minha contribuição. O que para uns é trivial, para outros pode ser um belo insight.
Meu amigo Beto Silva, artista plástico e ator, sempre me disse que artista só é artista enquanto está exercendo, seja no palco ou na calçada, não importa. Antes e depois disso ele não é nada. Creio que isso encerre essa elaboração. Temos que seguir essa vocação: missão dada, missão cumprida! Não depende mais de nós, trata-se da própria vida que urge.

Obrigado e até a próxima!

Nenhum comentário:

Postar um comentário