Sucesso, reconhecimento, fama, carreira, dinheiro e qualidade da obra
são coisas distintas e, quase sempre, distantes. Embora a maioria das
pessoas traga, inconscientemente, a noção de que uma decorre da outra,
não é regra ocorrerem juntas, simultaneamente, nem mesmo, na sequência
esperada.
Ter sucesso, significa ter êxito, planejar e realizar algo.
Ter reconhecimento, significa que outras pessoas admiram e reconhecem
este êxito. Ter fama, significa que, além de seus êxitos, seu nome
também está vinculado a eles. Ter uma carreira, significa que você busca
desenvolvê-los e aprimorá-los.
É uma ilusão achar que existe uma
relação direta entre isso e a independência financeira ou a qualidade do
que se faz. São coisas diferentes e independentes.
Van Gogh só foi
considerado gênio depois de sua morte. Cartola gravou seu primeiro disco
aos 66 anos. As partituras de Bach, depois de sua morte, eram vendidas
como jornal, para embrulhar peixe. Será que essas obras melhoraram com o
passar do tempo, ou a forma de avaliação, que é sempre escorregadia?
Cria-se
a teoria sobre as pinceladas de Picasso ou Monet. O que era técnica
grosseira passa a ser uma técnica divina. A própria falta de técnica
pode passar a ser um bom critério. O julgamento acontece segundo os
parâmetros de uma época, de um contexto histórico, mas a boa obra é
perene.
Um artista, considerado ruim, pode, nesta perspectiva
histórica, vir a ser considerado precurssor de uma tendência “genial”,
em outra época, mais afastada de seu tempo. O importante é ter a
inteligência de saber que ninguém é capaz de julgar a arte, afinal, nem
sequer, pode-se dizer, com exatidão, o que ela é.
No entanto, é
possível senti-la e saber que se manifesta através de nós. É fruto da
expressão humana, algo muito complexo e, também, muito simples, como a
própria vida - farta e tangível. Como explicar o que é vida? Num texto é
difícil, no entanto, qualquer criança, que ainda não lê, pode
compreender.
Por isso, não se deixe enganar, apesar de estarmos tão
presos neste modelo de “sucesso”, sem desmerecer suas qualidades, é
preciso enxergar e compreender que a arte vai muito além dele e, amiúde,
é bem menos engessada ou enlatada.
O pragmatismo que vivemos,
dificulta a compreensão de que existem diversas gradações de cores entre
os “opostos” aos quais alternamos nossa dicotomia - amor e ódio. As
outras diversas possibilidades, têm sido negligenciadas. Não conseguimos
apreciar nada que esteja fora do quadrado ou que não tenha um,
questionável, “selo” de qualidade.
Essa preferência por esquemas
prontos e que “dão certo” - afinal, dar certo é vender - tem sido algo
muito ruim, pois tira da arte parte de seu papel que é fazer pensar,
questionar e incomodar. Não aponta todos os nossos podres, só os que
permitimos, valorizando, apenas, sua capacidade de nos agradar.
Criou-se
um roteiro, uma lista de coisas necessárias para que algo seja bom. Nós
mesmos, precisamos nos sentir extremamente felizes, empolgados ou
tristes para considerar, por exemplo, um filme bom. Até mesmo nossas
sensações estão programadas. Se a arte imita a vida, creio que esteja
faltando coisa.
Apesar do marketing ser o que gira o mundo, criando
necessidades e movendo a roda do consumo, é preciso ter a consciência de
que a vida é uma sucessão de momentos, tristes, felizes, vazios, cheios
de esperança, de frustrações e infinitas sensações que podem ser
expressas por um artista que as coleciona.
Por isso, é preciso dar
oportunidade à arte, aceitar seu convite para ver outras paisagens,
falar outras línguas, conhecer outras realidades, isso nos torna mais
conscientes e humanos, diminui a intolerância, os preconceitos, nos
torna mais cultos, mais críticos e menos impulsivos, cientes de toda
nossa diversidade.
Nosso espírito tem buscado se manter preso. Tem
sido preferível ficar no cativeiro do que ver outras coisas, tamanha é a
repulsa ao diferente. A fantasia tem sido priorizada, apesar de a vida
mostrar que, na maioria das vezes, não termina no “felizes para sempre”
e, muito menos, se acabaria com o nosso sofrimento.
Quantos artistas
já morreram sem ser conhecidos? Quantos vivem entre nós e só terão
reconhecimento depois de sua morte? Quantos nunca terão valor? Será que
Michelangelo se importaria com isso? Será que Da Vinci abdicaria de ser
quem foi? Independente do reconhecimento, estavam sempre em sua busca.
A
busca consiste na constante realização. Amenizando inquietações,
exorcizando fantasmas, denunciando injustiças, dando voz às questões,
que são de todos os seres humanos. Também pelo aprimoramento, a
possibilidade de experimentar, poder errar e aprender com isso. Afinal:
“O homem é o exercício que faz.”
Mãos à obra! Não importa se o
texto terá um ou um milhão de leitores. O próprio exercício de escrever é
um aprendizado e basta que isso satisfaça. Se, além disso, ainda houver
outra pessoa reativa ao conteúdo, seja a favor ou contra, a comunicação
foi feita e o ciclo se completou, cabendo agora a ela, reagir.
Até a próxima!!!
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