quinta-feira, 13 de setembro de 2018

Coluna de Agosto de 2018 para o Jornal Portal

Apesar de não acompanhar e não compreender o motivo de tanto barulho entorno do futebol e, justamente, por estar afastado das paixões que o cercam, aproveito a repercussão da Copa do Mundo, para traçar mais uma analogia.
Não é preciso ser muito envolvido para perceber a realidade paralela em que ele habita. Comandado por uma entidade disfarçada de desportiva, parcial, com fins lucrativos e que organiza seus critérios, calendário e programação de forma totalmente autoritária, com certeza, a “paixão nacional” não vem em primeiro lugar.
Tendo isso como exemplo, imagine o que acontecerá no futuro, quando as grandes corporações passarem a governar, como vem acontecendo, paulatinamente, em todo mundo. Ao dominar todos os serviços de interesse público, ficará muito difícil defender os interesses da maioria da população, em detrimento dos seus. 
Com a música não é diferente. As empresas que visam, exclusivamente, o lucro, determinam, através de estratégias, os caminhos a serem seguidos, ainda que se tenha que convencer a população (também chamada de mercado), através de ações de marketing, a querer, comprar ou gostar de algo que não gostam.
Esporte e arte fazem parte da cultura e deveriam ser tratados como saúde e educação. Essas atividades são estratégicas para qualquer nação e seu desenvolvimento é intrinsecamente ligado e influenciado por elas, pois têm fundamental importância na formação da cidadania e, até, na resistência cultural.
Por isso, é impossível conceber a ideia de que apenas dados da economia, possam, de alguma forma, representar toda a variedade de necessidades humanas.
Nessa Copa teórica, foi curioso perceber a incapacidade dos narradores e comentaristas de lidar com a realidade que viram. Acostumados a enaltecer os craques, ficaram sem saber o que dizer quando não viram acontecer nas seleções, o que, frequentemente, vêem em campeonatos de clubes.
Deve ser difícil entender que um clube já é uma seleção. A “casa” onde treinam, criam e vivenciam esse contexto, em grupo, unindo habilidades individuais, somando e amalgamando o que se tornará sua identidade coletiva, sendo impossível repetir seus feitos e resultados em outro ambiente.
Pegue os maiores instrumentistas eruditos do mundo. Sozinhos, nunca obterão o resultado de uma orquestra e, quando reunidos, nada acontecerá sem ensaio. Melhor um grupo de desconhecidos ensaiados, do que renomados músicos perdidos - acredite! Não importa o quanto tocam, a obra de Bach ou de Beethoven exige harmonia e poliritmia, tudo é simultâneo e completamente sincronizado.
E na música popular? Vamos montar uma seleção? Phil Collins na bateria, Paul McCartney ao piano, Sting no Baixo, Mark Knopfler e Eric Clapton nas guitarras, Elton John ao piano. Então? Seria maravilhoso, não é?
Não seria como os grupos de onde surgiram, Genesis, Beatles, Police ou Dire Straits, pois sem os demais integrantes, que são partes cruciais de cada trabalho, perderíamos a referência. E, além disso, estes grandes expoentes precisam de espaço, como disse Rauzito: “É muita estrela para pouca constelação.”
Cada agrupamento de pessoas tem uma identidade. Mesmo se, apenas, um elemento for trocado, a dinâmica interna muda. Seja para melhor ou pior, muitas características daquele grupo se transformam. Como disse Charles Darwin: “Evoluir não quer dizer, necessariamente, melhorar, mas, se adaptar.”
Podemos ver essa seleção tocando no concerto “Music for Montserat”. Uma apresentação beneficente, realizada em Londres, em 1997. A nobre causa e a banda inusitada, geram, em nós, a sensação boa de vê-los reunidos, mas percebe-se que falta alguma coisa. É uma celebração e não um projeto trabalhado.
Num grupo coeso, todos trabalham por um mesmo objetivo e quando estão nesse ambiente, fazendo o que sabem e gostam de fazer, são como são, e cada um se destaca por suas capacidades, naturalmente. Isso é recorrente em qualquer tipo de grupo, banda ou time, seja do trabalho ou da esquina, conhecido ou não.
Mas nossos homens de TV, não conseguem compreender que o Messi só será o Messi que todos esperam, quando ensaiar. Quando todos a sua volta jogarem brilhando em suas posições, para que ele brilhe na dele. Não adianta repetir seu nome para as paredes, pois isso não fará com que o jogo fique melhor.
Mark Knopfler continua tocando muito. Mesmo fora do Dire Straits. Mas é outra coisa. É diferente. E é preciso entender que é uma escolha, querer repetir, durante anos, o que sempre fez ou querer ser diferente a cada ano. Como ouvintes e fãs, também podemos mudar ou manter nosso interesse. Isso é natural.
Assim como acontece no futebol, existem atributos e habilidades comuns a todos os músicos, que os fazem profissionais. E, entre eles, isso não é um diferencial. Mas a compreensão de que suas habilidades, a serviço de um todo, funcionam melhor do que individualmente, desequilibra, de fato, qualquer partida.
Vamos nos esforçar para jogar unidos pelo Brasil, chega de Fla Flu, as eleições vem aí! Abraços e até a próxima! 

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