quinta-feira, 13 de setembro de 2018

Coluna de Julho de 2018 para o Jornal Portal

Mês passado, chegaram aqui em casa, dois móveis que encomendamos chamados de “padaria”, que são estantes com portas em cada uma de suas prateleiras. Essas portas, além de terem vidro, para que se possa ver o que guardam, são retráteis, abrem para cima e, depois, escorregam para dentro do móvel.
Depois de deixarmos as duas de castigo no quarto por quase um mês, devido ao fedor de querosene (ou algo que o valha), que empesteou a casa e nos deixou, a todos, com uma reação alérgica terrível, vejam como realmente é importante essa última envernizada, finalmente era chegada a hora de arrumar a estante.
Desde 1991, mais ou menos, quando tinha uns quinze anos e meu pai comprou o primeiro CD player que tivemos, um Sony Carroussel, comecei a colecioná-los e não parei mais. Depois de casar e com as mudanças constantes de mídia, a coisa se reduziu bem, mas já tinha um bocado...
Minha esposa é professora de educação física e, para auxiliá-la nas aulas de ginástica e spinning, também possui um grande acervo. No seu caso, são discos montados, pois é necessário juntar músicas que tem o mesmo BPM, para poder ter sequências de mais de uma hora com o mesmo andamento para as aulas.
Abrindo o armário vimos as fitas cassete, CDs de dados e programas, MDs, DVDs, mini Dvs, fitas de vídeo, walkman, discman, fones de ouvido e de repente fiquei atônito. Carol olhou para mim e perguntou se estava com preguiça, mas eu respondi a ela que tinha encontrado o assunto da minha próxima coluna.
Para quem vive em nosso planeta, é quase inevitável que se acabe conhecendo instrumentos, gravadoras, aparelhos e mídias, e conheça, assim, algumas empresas que nos fornecem tais serviços e produtos. E isso não se trata de assunto de músico, pois o insight que tive, tem relação com a forma através da qual nos habituamos a viver, desde a segunda metade do século passado.
Percebi que a empresa Sony era responsável por TODAS aquelas mídias e aparelhos que tínhamos no armário. Mesmo quando a marca era outra, a patente era dela, já que tinha inventado tudo aquilo. Fui para o oráculo (Google) para ter a confirmação se o que pensava estava certo ou não, e lá estava o resultado.
Não apenas os aparelhos e mídias que citei, como vídeo games, games, TV colorida, digital, DATs, computadores, e mais centenas de coisas do tipo, que não dá para enumerar aqui, são patenteadas pela empresa. Sem falar nos seus outros braços de atuação, uma gigante global, em todos os ramos do entretenimento.
Vejamos: a Sony Music é gravadora e comprou a Columbia, a RCA-Victor e a BMG; a Sony Pictures é produtora e comprou a Metro-Goldwin-Mayer e Tristar pictures; a Sony Entertainment, tem os canais Sony, Spin, AXN, entre outros. E, como editora e detentora de direitos autorais, tornou-se a número um do mundo quando comprou o acervo da falida EMI.
Criei, com o tempo, uma boa relação com a Sony, construída através da confiança nos aparelhos, percebendo a durabilidade e reconhecendo sua constante inovação, tornando-se, para mim, uma referência de qualidade e de tecnologia.
Levando em consideração tudo o que me proporcionaram, poderia até dizer que essa relação é sentimental. Já que fluiu através da música, nesse primeiro aparelho de som, das fitas que gravei; mais tarde, com as fotos que tirei nas viagens, dos vídeos que fiz do nascimento das minhas filhas, etc... Afinal, toda a nossa vida pessoal, atualmente, passa pelas mídias, reprodutores, editores e se tornou, inegavelmente, digital, e isso tem grande influência dessa empresa.
Mas, tentando ultrapassar esta perspectiva da alta tecnologia que reconhecidamente é fruto de muito trabalho e pesquisa, é sempre necessário que busquemos uma reflexão, toda vez que a vida nos conscientiza sobre algo.
A primeira e mais importante é saber se as empresas de tecnologia têm, realmente, buscado a certeza de que a mão-de-obra terceirizada que contratam, não é escrava, que a matéria-prima utilizada é retirada de lugares permitidos e vem, de preferência, de fontes renováveis. Ou seja, se preocupam-se com alguma coisa além do lucro, ou estão numa corrida desenfreada pelo 1º lugar.
Também é necessário falar sobre o lixo, já que o crescimento exponencial da tecnologia, torna a mais antiga obsoleta, num curto espaço de tempo, gerando um lixo digital gigante. Quando minha irmã esteve no Japão, em 1995, disse que viu milhares de aparelhos novos no lixo, que dava vontade de trazer. Depois, ficou sabendo que as empresas que os vendiam, eram obrigadas a recolhe-los, reutilizar material, etc. Igual aqui...
Uma coisa é certa: ela não sai perdendo nunca. Além de ser a fornecedora dos objetos da obsessão dos aficcionados por tecnologia, música, jogos, cinema, etc e possuir suas patentes; essa empresa lança um artista pela sua gravadora; o promove através de seus canais; se os possuir, ganha os direitos autorais de sua obra, mesmo sendo de outra gravadora e ainda não tendo nenhum desses tentáculos sobre ele, ganha sobre a patente dos CDS e DVDs vendidos legal e ilegalmente, lucrando até quando há pirataria.
Aproveitando o clima de Copa do Mundo, eu pergunto a arbitragem: Pode isso, Arnaldo? Pois é... Seria fácil dizer que, apesar de sedutora, a tecnologia não sofre pressão da indústria que dita as regras e o ritmo do jogo. Da mesma forma, dizer que toda essa tecnologia e inovação é apenas fantasia sem propósito.
Como sempre, estamos entre a maravilha e a maldição, a grande questão humana do equilíbrio, da harmonia entre pesquisa, recursos, utilização, direitos e reciclagem de forma mais distribuída e benéfica às pessoas e ao planeta.
Até a próxima! Agora vou voltar para minha arrumação...

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