quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

Coluna de Novembro de 2017 para o jornal Portal

Em alusão ao dia dos mestres, apesar de não ter nenhum controle sobre como você, leitor, irá interpretar, quero tentar, através desse texto, trazer um novo prisma, que para mim, é o único possível, sobre o autodidatismo.
Toda vez que ouço alguém dizendo que não estudou para fazer algo, pois é autodidata, confesso que tenho náuseas. Pois isso afeta, muito, crianças e jovens que ouvem tal discurso e que, erradamente, querem fazer igual.
Todos somos autodidatas, ou seja, capazes de aprender observando ou, ainda, deduzir - chegar a conclusões, sem ter visto alguém fazer. A diferença é que, para cada um, será mais fácil determinado assunto ou tarefa, de acordo com sua maturidade, habilidade ou ambiente.
O fato é que ninguém consegue render e despontar numa atividade sem muito treino, prática e estudo. O que dizer então em várias... O refinamento vem da repetição correta, com técnica, cuidado e paciência. A vontade e a facilidade, de se aperfeiçoar dessa forma, é chamada de vocação.
Mas nem a vocação, nem o autodidatismo podem fazer ninguém chegar ao ápice, sem muito esforço. Então, essa postura de “mamãe sou gênio”, serve apenas de mau exemplo para as novas gerações, que já pensam que as coisas caem do céu.
Na grande maioria das vezes, esse discurso é uma forma brasileira de se mostrar superior, pois existe, infelizmente, na nossa malandragem, além do lado bacana de encararmos a vida sorrindo, o lado filho da puta de deixar que outros façam as nossas obrigações, já que somos merecedores.
Então, primeiramente, saibamos que existem os autodidatas e os que se dizem autodidatas. Depois, temos que pensar sobre o que é o autodidatismo no sentido citado. Aprender sozinho? Sem estudar? Sem estudar com alguém? Sem a ajuda de ninguém? Sem consultar livros? Difícil, né?
Ser autodidata, não é “não ter professor” e, sim, a capacidade de ter vários professores, de aprender com tudo e todos que nos cercam. A própria sociedade nos ensina, coisas boas e ruins, por isso, Vygotsky chegou a sua expressão: “O homem é produto do meio.” Contrapondo esta ideia, Piaget dizia que as bases biológicas são muito importantes e que a maturidade cognitiva de cada um, influencia no aprendizado.
É a maturidade, que nos dará a capacidade de observar, sobre vários prismas, um mesmo assunto. Compreender as entrelinhas de textos e os contextos de situações. Afinal, o conhecimento é uma espiral, onde sempre voltamos aos assuntos antigos, sob novo prisma.
Podemos aprender sozinhos, ter insights e sacadas. Mas isso aconteceria com um instrumento? O sujeito quer muito, de repente, enquanto passava numa ponte - Pum! O conhecimento o atinge? E o vocabulário? Como pode alguém que nunca estudou, dizer que a escala é uma Lídio b7?
Seria a partenogênese do conhecimento? A capacidade que algumas fêmeas possuem de se procriar, sem precisar de machos para fecundá-las? Ele simplesmente aparece? Não dá gente...
Quem é autodidata, só não tem aula formal. Mas tem família, amigos, colegas que dividem o mesmo gosto por um assunto e, assim, estudam com maior ou menor frequência e facilidade. Os livros também são grandes fontes de pesquisa e conhecimento, apesar de não serem professores.
Vamos valorizar seus autores, citar seus nomes, indicar suas obras. Valorizar os professores, os amigos mais experientes que nos dão dicas maravilhosas, os colegas de estudo, com quem partilhamos a aprendizagem. Na interpretação do outro, sempre vemos algo que não veríamos sozinhos.
Os grandes inimigos do conhecimento, nos dias de hoje, são o excesso de informação, e a falta de didática, geradas pela desvalorização do ensino. E neste mundo onde os professores não são necessários, os assuntos não tem ordem, progressão, nem importância. Muito menos, abordagens que facilitem e estimulem a discussão, a compreensão e a assimilação.
Hoje, não tenho professor e sinto muita falta, mas sempre procuro os debates saudáveis e enriquecedores. Todos aqueles que passam em minha vida e, com amor, tentam me ajudar, orientar e alertar, considero mestres. Acredito que só as novas perspectivas, podem nos testar e fazer crescer.
Parabéns aos mestres! E aos meus mestres formais, mestres da vida e amigos que tanto me ensinam!
Até a próxima!!!

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