quarta-feira, 1 de novembro de 2017

Coluna de Outubro de 2017 para o Jornal Portal:

Fui ao RIR nesta edição 2017. Fui porque minha filha insistiu - Pai, eu nunca fui! E eu tentava me defender - Eu também não! Foi minha primeira vez, aos 41. Prefiro lugares menores, mais controláveis, se é que isso existe. Gosto muito de gente, mas todas juntas, empolgadas e doidonas, evito ao máximo.

Foi bem organizado, em relação ao acesso, aos banheiros, filas pequenas para itens mais necessários e algumas maiores para coisas mais superfluas como tirar foto ou marcar hora para brinquedos. Essa organização é o habitual lá fora. Por isso, me questiono: Será que aprendemos? Ou isso se deve apenas a presença de artistas internacionais? Por que só uma franquia consegue mobilizar tanto público e tantos segmentos da sociedade? Por que é tão sazonal? Por que tem ares de tão grandioso, faz parte do marketing?

Isso prova que é possível fazer eventos, com adesão, em solos Tupiniquins. Mas quais são os motivos para não acontecerem? Parte do problema é a falta de vontade política, e isso é bem claro. Mas existe um cabresto, que nos puxa e os antolhos, que nos apontam qual direção seguir, qual artista ou gênero é superior. Isso sempre ocorreu. Mas ouçam um segredo - Podemos gostar de todos! Nacional, internacional, urbano, rural, novo, antigo, sofisticado ou rústico. Não existe o melhor do mundo. Isso é uma besteira! Existem afinidades e encaixes.

Uma música complexa, assim como um texto, se afasta do grande público. E, ainda assim, tem seu nicho. A música mais simples, pode ser ruim, mas não porque é simples. Existem diversas músicas difíceis que são intragáveis, assim como fáceis que são maravilhosas. Isso tem a ver com a experiência humana, nosso gosto, nossas memórias e afetos e, também, com o momento vivido.

Um bom show tem vários fatores, entre eles: a sonorização, os efeitos visuais, o repertório, o artista e, até, a música. Tenham certeza de que muito pouco tem a ver com seu estudo. Alguns estilos e instrumentos, exigem muito. Um virtuose, pode ser considerado ouro olímpico de guitarra, campeão do mundo de bateria, mas isso não garante um bom espetáculo. Já a sua relação com o público...

Existem espetáculos mais performáticos, com dança, trocas de roupa, rapel, tirolesa, etc. Existem os mais contemplativos, onde ficamos viajando. Os mais participativos que nos colocam para cantar junto, dançar ou pedir música. Existem os que têm um repertório inteiro de sucessos, que podemos cantar, pois conhecemos tudo. Existem os mais românticos e os mais explosivos, etc.

Para cada gosto, ou melhor, para cada demanda, existe um tipo. O que é feio e pega mal, é quando o público e o artista não se entendem. O artista quer falar e o público, dançar. O artista quer mostrar o novo disco e o público, cantar os antigos sucessos e por aí vai. Às vezes, a equipe de vendas força uma barra, às vezes a produção erra na divulgação... Muitos podem ser os desencontros.

Por isso, é importante que o público saiba, de verdade, do que se trata aquela turnê. Que o artista tenha a sensibilidade de divulgar a intenção real. Que os produtores dos contratantes, saibam qual tipo de show estão vendendo, pois estes fatores são determinantes. Assim, uma concepção mais equilibrada, que tem repertório novo misturado com antigo, que procura entender o perfil do evento, se artístico ou de entretenimento, e a faixa etária do público, acaba beneficiada.

Num mundo onde temos sempre saudade do que vivemos, onde queremos sempre relembrar, existem duas coisas que fazem a diferença, em termos artísticos: A atitude de bancar a sua arte, ainda que haja queda de vendas por estar fazendo algo novo e não relembrando o passado, e o carisma, de conseguir trazer seu público para dentro dessa onda, num transe, encantando a serpente. 

Aqui, ainda nos faltam espaços, que poderiam ser menores do que o parque olímpico, com menos concentração de pessoas, mais variação de artistas, segmentos da arte e locais de eventos, capazes de fazer circular cultura, feita com dignidade, respeito e zelo, em diversas camadas sociais. Criando um público, que pudesse se nutrir de variados aspectos da cutura e, em contrapartida, adquirisse mais consciência do seu papel e lugar no mundo.

As pessoas, que são esse público, precisam saber que o mercado transforma tudo em produto. E que vive de criar a necessidade de vendê-los, a qualquer custo. Esta estrutura gigante, anti natural e autofágica, sempre, estará fadada ao fim e precisa se reinventar, absorvendo as novidades que vão dando certo. O discurso da inclusão é sempre bonito, mas, depois, a história se repete.

Se a vida começasse agora, diria que ainda nos falta educação, para sabermos que existe um momento para cada tipo de música e que devemos saber como nos portar. Que nos falta cultura, para absorvermos e termos, em nossas atitudes, a capacidade de ouvir e respeitar a imensa diversidade cultural que nos rodeia. E que falta incentivo, para que todas as crianças tenham acesso a ela e, assim, possam desenvolver a capacidade de, sozinhas, formarem seus gostos e opiniões. Não impostas, mas vivenciadas, saboreando essa liberdade. E isso as tornaria libertadoras também. E a gente não pararia mais de cantar e de viver.
Até a próxima!

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