quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

Coluna de Dezembro de 2017 para o jornal Portal

Devemos ir! A música me ensinou ou através dela aprendi. Sabe quando estamos quase acabando de fazer uma tarefa e alguém nos chama, o telefone toca ou o relógio avisa e temos que ir?
Dá uma agonia imensa deixar algo por fazer, mas devemos ir para vida. Nela, estão as respostas, as melhorias e as sacadas. No nosso trabalho não remunerado, onde não “ganhamos” nada. Naquela arrumação, brincar ou estudar com os filhos, fazer compras ou fazer o jantar.
Quando deixamos que façam essas coisas por nós, porque são coisas menores, não são nobres como nosso trabalho, nos afastamos da vida. Nessas tarefas estão nossas famílias, amigos e as gratas surpresas.
Na música, na poesia ou na prosa, onde as sutilezas fazem diferença, às vezes é preciso abandonar o que estamos fazendo, esquecer um pouco aquilo que está nos rondando, mas não está agradando e mergulhar na vida, para, depois, retomar o trabalho renovado.
Para que isso aconteça, não é necessário que tenhamos uma experiência inédita, inacreditável ou maravilhosa. Mas, apenas, um novo dia e, com ele, um novo bom dia para o vizinho, uma nova ida ao mercado e, assim, novas experiências, novos sabores e novas possibilidades.
Como diz o ditado: “Um homem não toma banho duas vezes no mesmo rio“, porque o rio não é mais o mesmo. Mas, um rio não banharia duas vezes um mesmo homem, porque o homem, também, não é mais o mesmo.
Na coluna de Abril deste ano, falei sobre o fato da percepção ser uma espécie de tradutora, que contextualiza e relaciona sentidos paralelos, permitindo que sabores se juntem a cheiros, acordes, imagens e texturas.
Essa forma análoga de processar as informações, permite que possamos nos manter focados em algo que estamos querendo ou precisando terminar, mesmo sem estar, naquele momento, com as mãos na massa. Mas apenas relacionando, com ele, o outro trabalho que tivemos que fazer naquela hora.
Vários compositores contam que, numa determinada situação, encontravam-se travados, sem perspectiva de conseguir terminar uma melodia ou letra, de chegar a uma imagem mais próxima à que pensaram e de repente, chega de um lugar inesperado, uma palavra, frase, bordão, ideia ou ponto de vista que encaixa ou que traduz o que ele queria dizer.
Alguns preferem pensar que foi a maior coincidência, tudo bem. Eu prefiro culpar aquele percentual que não usamos da mente, e dizer que somos capazes de criar analogias inacreditáveis.
Não é preciso que a analogia seja genial, apenas que o artista entenda que, para ele, é uma novidade ou representa, de fato, o que ele pretendia expressar. Pode ter estado a vida toda a sua frente, mas até aquele momento, aquela altura, nunca havia feito nexo, não havia dado o estalo.
Por isso, entendo que não devemos fugir das coisas menores, chatas ou pequenas. Mas é preciso estar atento, vigilante, com a “visão além do alcance” acionada. E, assim, não deixar o instante passar, olhando a hora ou resmungando.
Para isso acontecer, temos que buscar recuperar aquela capacidade infantil de nos impressionarmos com as coisas da vida, afinal, são milagres!
Olha o sol! Olha a plantinha! Olha a lua! Olha o bichinho! Olha a água! Olha o céu! Olhas as estrelas...
Viva a vida! E a possibilidade de nos reinventarmos! Feliz Natal!
Até a próxima!

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