segunda-feira, 1 de janeiro de 2018

Coluna de Janeiro de 2018 para o Jornal Portal

Uma das coisas mais impressionantes e, também, triviais do universo é o equilíbrio. As galáxias, sistemas solares, a natureza, os ecossistemas, as partículas e toda a vida encontram-se em equilíbrio.
Quando experimentamos um desequilíbrio, experimentamos, também, enormes movimentos, num esforço para desfazê-lo. Até mesmo, socialmente, percebemos que um sistema mais igualitário é mais harmônico.
Na música não é diferente, já que ela é uma expressão do ser humano e, até, do planeta, se pensarmos nos sons da natureza. Pelo fato da música humana ter menos elementos, seu desequilíbrio ainda é mais notório.
Antes de falar da música em si, podemos lembrar de uma experiência sonora que, provavelmente, todos já tivemos - com o equalizador, presente em quase todos os equipamentos de som, domésticos ou automotivos - um aparelho feito para igualar as freqüências geradas num ambiente.
A ideia não era de aumentar os graves das caixas de som de um carro e passear tocando funk no volume máximo ou fazer as janelas do vizinho trepidarem, quando alguém fosse ouvir música no quarto. Mas, a princípio, cortar as freqüências (notas) que sobram e apitam, mantendo todas em igualdade, pois uma é tão importante quanto as outras.
Outra ideia de equilíbrio vem da repetição. Sabe aquele ar condicionado barulhento, aquele som chato do ventilador ou da panela de pressão? Nossa percepção foi programada para “desligar” para tudo que é constante. Pois tudo isso desviaria, desnecessariamente, a atenção.
Mas o compositor ou intérprete, quer fisgá-la e prendê-la. Por isso, cria variações, oscilações, momentos inusitados e paradoxais. Nada melhor do que os opostos, tão distantes, para nos chamar a atenção e manter a percepção em vigília.
Porém, é preciso equilíbrio. Às vezes, buscando atingir o espectador, o artista “erra na mão” e carrega no tempero. O termo temperar, antes de ser usado para a comida, era usado para a água, já que alterando gradualmente sua temperatura, podemos suportar extremos. Mas as coisas precisam funcionar harmoniosamente, para que não haja repulsa ou desinteresse. A busca por essa medida é busca pela proporção.   
A palavra contraponto é desgastada no meio musical, por ter se tornado uma técnica específica de se responder a melodia com outra melodia. Mas a ideia de contrapor é a maneira mais comum de se equilibrar uma composição ou arranjo, buscando sempre, a cada momento, um peso igual no outro lado da balança.
Raul Seixas dizia na sua música “Números”: “E no dois o homem luta entre coisas diferentes; bem e mal; amor e guerra; preto e branco; bicho e gente; rico e pobre; claro e escuro; noite e dia; corpo e mente”.
Pergunta e resposta, muito e pouco, tudo e nada... Essa dualidade é antiga, mas não precisa ser um duelo, já que a ideia da média, serve para quase tudo em nossa vida: Usar os opostos para nos equilibrarmos e saber que estão em harmonia, complementando-se e fundindo-se.
Na música, podemos pensar que silêncio e som são opostos. Que também podem advir do rítmo, como tempo e contratempo. Da dinâmica, como fraco e forte. Da altura, como grave e agudo. Do volume, como alto e baixo. Do timbre, como doce e aspero, etc.
Até mesmo sobre um repertório, é comum usar o equilíbrio como ferramenta, contrapondo momentos mais calmos e mais agitados, reflexivos e explosivos, românticos e politizados.
Siddartha Gautama, o Buda, ouviu um professor de música explicando ao seu aluno: “Se esticar demais a corda, ela arrebenta. Se não esticar o suficiente, não toca.” E depois de abandonar a riqueza do palácio de seu pai, onde era príncipe e ficar anos isolado meditando, comendo pouco, como um eremita, criou sua filosofia sobre essa ideia: evitar os extremos - “O Caminho do meio”.
Que nesse novo ciclo, estejamos mais próximos do equilíbrio!
Feliz ano novo! Um grande abraço!
Até a próxima!

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