Essas atividades, que podem ser trabalhos, jogos colaborativos, entre outras, buscam identificar conflitos e fazer o próprio grupo compreender seus motivos, analisando, criando consciência e discutindo formas de solucioná-los.
Acredito que esta forma analógica de aprendizado funciona muito bem, porque enxergo na natureza inúmeras metáforas. Quanto mais aprofundamos, mais podemos observar tais analogias, que vem desde os números Fi e Pi, passando pelo modelo atômico, a gravidade, os astros, sistemas solares e galáxias.
A educação finlandesa, tão em voga, que prefere preparar os alunos para vida e não para as provas, baseia-se nas analogias da natureza e na forma como nós, que somos parte dela, precisamos estruturar nossos pensamentos para poder compreendê-la, da forma que nos é possível, já cientes de nossa falibilidade.
John Rutter, maestro e compositor de música sacra para coral, defende a importância da existência dos corais em escolas, igrejas e entidades de todo o tipo, justamente, devido à força simbólica que a música, vivida através do canto têm, como reforço positivo, ou círculo virtuoso.
Ele vê a música como uma grande árvore, no centro da humanidade, com galhos estendidos em todas às direções, capaz de nos alimentar de valores cada vez mais sublimes, que vão além dela própria, e só nos engrandecem.
Saímos renovados depois de passar algumas horas cantando em grupo, vivenciando a harmonia e esquecendo nossos problemas. Cantar pode transformar dias ruins, fases ruins e, até mesmo, vidas ruins, através do simples fato de realizar algo em grupo, revelando que se envolver, é a verdadeira vocação humana.
Os políticos e educadores deveriam estar atentos aos fenômenos da música que nos faz transcender e ensina a viver através de sua prática e, na visão do maestro, o canto coral seria a ferramenta mais poderosa e, porque não, a melhor dinâmica de grupo. Por isso, deveria gerar interesse e receber investimento.
Um álbum é o resultado de horas de criação, gravação e ensaio, trabalho que une música, músicos, técnicos e tecnologia e, assim como um filme, pode nos levar a resultados incríveis, desde que se consiga vislumbrá-los para, depois, tentar transformá-lo em realidade.
Uma apresentação ou show, também é fruto de criação e ensaio, precisa de músicos, técnicos e de tecnologia, porém, depende do que seja passível de se executar ao vivo. Muitas vezes não é possível repetir o que foi feito no estúdio, em sucessivas camadas de gravações.
Uma orquestra, depende dos músicos e de seus instrumentos, das horas de criação e ensaio, mas não precisa de tecnologia, nem de técnicos para que possa se apresentar.
Um coral, depende das horas de criação e ensaio e, nele podemos ouvir ritmo, melodia e harmonia, em arranjos complexos, provando que os instrumentos, são, apenas ferramentas, através das quais, nos expressamos.
Este exercício de desconstruir a noção contemporânea do que chamamos de música, é necessário para que possamos refletir e entender que não é preciso nada, além de seres humanos (em grupo), para que ela exista e possa ser executada. É o formato mais natural da música que vem de dentro de nós.
Mas o coral não é apenas isso. Ele representa, tudo o que deveríamos ser como sociedade: atentos a harmonia, conscientes de que nossa parte, por mais simples que pareça, tem efeito no resultado final. Mantendo-nos motivados, sempre, a focar no objetivo comum a alcançar.
Perceber que é fundamental ajudar quem tem mais dificuldade, com a humildade de quem já errou e com a certeza, trazida pela experiência, de que, só em grupo, será possível ganhar, pois, ao contrário do esporte, não há pódio. Ou todos vencem ou todos perdem e se não pulsarmos juntos, o arranjo não funciona.
Então, compreendemos que um coral realiza seu trabalho, quando esse propósito maior, coletivo e universal nos guia. Depois do acorde final, temos a certeza da beleza da canção, do arranjo, do trabalho, do companheirismo, da unidade, do resultado apresentado e experimentado por cada indivíduo e pelo grupo.
“Be thou my vision” de John Rutter and Cambrige Singers, pode ser facilmente encontrado na rede e é um disco lindíssimo. Tem tudo a ver com as festas de fim de ano, ouçam sem moderação! E manerem nos excessos!
Com a esperança de que seremos, cada vez mais, um verdadeiro coral:
Feliz Natal e até próxima!
