sábado, 1 de dezembro de 2018

Coluna de Novembro de 2018 para o Jornal Portal

A vida imita a arte ou a arte imita a vida? Essa questão filosófica e retórica, não precisa de resposta, muito menos, de acerto. Afinal, apenas os debates que suscita, por si só, já podem ser muito esclarecedores e edificantes. Servindo, até, de fagulha para grandes obras. Como em Hamlet: ser ou não ser?
A arte, num sentido mais simples, é o fruto de vivências. Que geram sentimentos, expressos por quem passa por alguma situação, seja vivendo, convivendo, observando ou interpretando, a seu modo, com base, também, nas suas próprias vivências, o que se passa com o próximo.
Obviamente, por ser subjetiva, não explica nada, apenas, oferece gratuitamente, material para que possamos amassar e dar a forma que quisermos. Matéria abstrata, que transformamos à nossa moda, que ruminamos até tirar dela alguma, ou nenhuma conclusão. Sorvendo ou cuspindo.
Pode nos ajudar a suportar determinados momentos; ser o apoio numa situação difícil; o incentivo para realizar algo; pode impelir à dança; nos chacoalhar em uma comemoração; ser companhia em momentos de profunda meditação; nos emocionar, imaginando e sentindo algo que nunca vivemos ou iremos viver...
Serve para tirar o peso dos meus ombros e me fazer voar, voltar à nascente, ser criatura que também pode criar, e, sentir que estou, exatamente, no lugar em que deveria estar. E, então, rever objetivos, replanejar o vôo, reafirmar compromissos e recomeçar a jornada.
Pensavam os Gregos: é em contato com as musas da arte, que nos sentimos completos, podendo recordar, do barro que viemos e para onde voltaremos e, também, da nossa imperfeição. Somos conectados por ela, e, por alguns instantes, fugidios, nos sentimos plenos. Cumprindo nosso papel na grande colmeia.
Imitando a vida, a arte nos ensina, através de parábolas e metáforas. Permitindo-nos visitar lugares onde nunca iremos; viver e ver, coisas que jamais, viveríamos, veríamos ou nos seriam permitidas. Por isso, ela é, para nós, um prévio ensaio, onde só o bom aluno, consegue vivenciar a realidade.
Na música, a sensação de todo, vem da harmonia. Nos aspectos de acordes, movimentos, quantidades e famílias. Um acorde pode ser comparado à empatia: notas diferentes, trabalhando num esforço conjunto, por um mesmo objetivo.
Uma tríade de Dó, chamada assim por possuir três notas (ou vozes), é formada pelas notas Dó, Mi e Sol. Seus movimentos, criam melodias paralelas, que complementam a principal, e, geram o chamado acompanhamento.
Numa orquestra ou coral, é impressionante e emocionante ouvir uma música tocada ou cantada em uníssono (todos na mesma nota), materializar a força e o poder de um grupo, com um só ímpeto, de vento, trovão, relâmpago ou fogo...
Quando em vozes distintas, normalmente separadas por características e altura, é possível reparar a beleza entre suas relações de semelhança e diferença, justa e contraposição, criando momentos de tensão e relaxamento, gerando uma sequência contínua e duradoura de emoções.
A música, ensina a beleza e a importância das diferenças, a força poderosa da união e do propósito. Libertando nossa alma, nos levando como folha ao vento, como barco à deriva, sem temores e medos, apenas com a certeza da aventura.
Compositor e maestro, são responsáveis pela criação, planejamento e condução, mas se torna clara, a necessidade da cooperação e participação de todos, pois cada pequeno instrumento ou voz, que pode parecer insignificante, é fundamental, no momento certo e oportuno.
Encontrei, no YouTube, o registro em vídeo, de um trabalho muito bonito, da escola de música dinamarquesa, Ollerup Eftenskole, que em vários anos, fez um arranjo para coral, com alunos, para a música Bohemian Rapsody, do Queen. Recomendo que vejam. É, de verdade, muito emocionante!
Assistir a isso é bom, nesta época, de extremo egocentrismo e polarização, para recordar o quanto esse comportamento é prejudicial, seja na área que for. Desprezar a opinião alheia, tratando-a como falta de inteligência ou como maldade é, no mínimo, uma grande demonstração de soberba e de falta de empatia.
Não vivemos a mesma realidade de ninguém, por isso, é necessário tratar as diferenças com muito respeito. Ver, além das aparências, o que as pessoas, realmente, almejam e querem dizer, sem frases prontas. E, assim, enxergar que há muito mais coisas para nos unir, do que para nos separar.
Aos que julgam inteligente a capacidade de discutir sobre tudo, lembro que, a humildade é, sempre, a maior sabedoria. É saber calar, evitando ecoar o ódio que se propaga e, em silêncio, perceber que os “cabeças”, não têm bandeiras, beneficiando-se em qualquer cenário, e, mais ainda, nesta condição de apartados a que chegamos. Como diria Paulo Leminski: “O poder é o sexo dos velhos.”
Faço um convite aos que ainda amam: Vamos imitar a arte e viver em harmonia?
Até a próxima!

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