Devemos ir! A música me ensinou ou através dela aprendi. Sabe quando estamos quase acabando de fazer uma tarefa e alguém nos chama, o telefone toca ou o relógio avisa e temos que ir?
Dá uma agonia imensa deixar algo por fazer, mas devemos ir para vida. Nela, estão as respostas, as melhorias e as sacadas. No nosso trabalho não remunerado, onde não “ganhamos” nada. Naquela arrumação, brincar ou estudar com os filhos, fazer compras ou fazer o jantar.
Quando deixamos que façam essas coisas por nós, porque são coisas menores, não são nobres como nosso trabalho, nos afastamos da vida. Nessas tarefas estão nossas famílias, amigos e as gratas surpresas.
Na música, na poesia ou na prosa, onde as sutilezas fazem diferença, às vezes é preciso abandonar o que estamos fazendo, esquecer um pouco aquilo que está nos rondando, mas não está agradando e mergulhar na vida, para, depois, retomar o trabalho renovado.
Para que isso aconteça, não é necessário que tenhamos uma experiência inédita, inacreditável ou maravilhosa. Mas, apenas, um novo dia e, com ele, um novo bom dia para o vizinho, uma nova ida ao mercado e, assim, novas experiências, novos sabores e novas possibilidades.
Como diz o ditado: “Um homem não toma banho duas vezes no mesmo rio“, porque o rio não é mais o mesmo. Mas, um rio não banharia duas vezes um mesmo homem, porque o homem, também, não é mais o mesmo.
Na coluna de Abril deste ano, falei sobre o fato da percepção ser uma espécie de tradutora, que contextualiza e relaciona sentidos paralelos, permitindo que sabores se juntem a cheiros, acordes, imagens e texturas.
Essa forma análoga de processar as informações, permite que possamos nos manter focados em algo que estamos querendo ou precisando terminar, mesmo sem estar, naquele momento, com as mãos na massa. Mas apenas relacionando, com ele, o outro trabalho que tivemos que fazer naquela hora.
Vários compositores contam que, numa determinada situação, encontravam-se travados, sem perspectiva de conseguir terminar uma melodia ou letra, de chegar a uma imagem mais próxima à que pensaram e de repente, chega de um lugar inesperado, uma palavra, frase, bordão, ideia ou ponto de vista que encaixa ou que traduz o que ele queria dizer.
Alguns preferem pensar que foi a maior coincidência, tudo bem. Eu prefiro culpar aquele percentual que não usamos da mente, e dizer que somos capazes de criar analogias inacreditáveis.
Não é preciso que a analogia seja genial, apenas que o artista entenda que, para ele, é uma novidade ou representa, de fato, o que ele pretendia expressar. Pode ter estado a vida toda a sua frente, mas até aquele momento, aquela altura, nunca havia feito nexo, não havia dado o estalo.
Por isso, entendo que não devemos fugir das coisas menores, chatas ou pequenas. Mas é preciso estar atento, vigilante, com a “visão além do alcance” acionada. E, assim, não deixar o instante passar, olhando a hora ou resmungando.
Para isso acontecer, temos que buscar recuperar aquela capacidade infantil de nos impressionarmos com as coisas da vida, afinal, são milagres!
Olha o sol! Olha a plantinha! Olha a lua! Olha o bichinho! Olha a água! Olha o céu! Olhas as estrelas...
Viva a vida! E a possibilidade de nos reinventarmos! Feliz Natal!
Até a próxima!
quarta-feira, 20 de dezembro de 2017
Coluna de Novembro de 2017 para o jornal Portal
Em alusão ao dia dos mestres, apesar de não ter nenhum controle sobre como você, leitor, irá interpretar, quero tentar, através desse texto, trazer um novo prisma, que para mim, é o único possível, sobre o autodidatismo.
Toda vez que ouço alguém dizendo que não estudou para fazer algo, pois é autodidata, confesso que tenho náuseas. Pois isso afeta, muito, crianças e jovens que ouvem tal discurso e que, erradamente, querem fazer igual.
Todos somos autodidatas, ou seja, capazes de aprender observando ou, ainda, deduzir - chegar a conclusões, sem ter visto alguém fazer. A diferença é que, para cada um, será mais fácil determinado assunto ou tarefa, de acordo com sua maturidade, habilidade ou ambiente.
O fato é que ninguém consegue render e despontar numa atividade sem muito treino, prática e estudo. O que dizer então em várias... O refinamento vem da repetição correta, com técnica, cuidado e paciência. A vontade e a facilidade, de se aperfeiçoar dessa forma, é chamada de vocação.
Mas nem a vocação, nem o autodidatismo podem fazer ninguém chegar ao ápice, sem muito esforço. Então, essa postura de “mamãe sou gênio”, serve apenas de mau exemplo para as novas gerações, que já pensam que as coisas caem do céu.
Na grande maioria das vezes, esse discurso é uma forma brasileira de se mostrar superior, pois existe, infelizmente, na nossa malandragem, além do lado bacana de encararmos a vida sorrindo, o lado filho da puta de deixar que outros façam as nossas obrigações, já que somos merecedores.
Então, primeiramente, saibamos que existem os autodidatas e os que se dizem autodidatas. Depois, temos que pensar sobre o que é o autodidatismo no sentido citado. Aprender sozinho? Sem estudar? Sem estudar com alguém? Sem a ajuda de ninguém? Sem consultar livros? Difícil, né?
Ser autodidata, não é “não ter professor” e, sim, a capacidade de ter vários professores, de aprender com tudo e todos que nos cercam. A própria sociedade nos ensina, coisas boas e ruins, por isso, Vygotsky chegou a sua expressão: “O homem é produto do meio.” Contrapondo esta ideia, Piaget dizia que as bases biológicas são muito importantes e que a maturidade cognitiva de cada um, influencia no aprendizado.
É a maturidade, que nos dará a capacidade de observar, sobre vários prismas, um mesmo assunto. Compreender as entrelinhas de textos e os contextos de situações. Afinal, o conhecimento é uma espiral, onde sempre voltamos aos assuntos antigos, sob novo prisma.
Podemos aprender sozinhos, ter insights e sacadas. Mas isso aconteceria com um instrumento? O sujeito quer muito, de repente, enquanto passava numa ponte - Pum! O conhecimento o atinge? E o vocabulário? Como pode alguém que nunca estudou, dizer que a escala é uma Lídio b7?
Seria a partenogênese do conhecimento? A capacidade que algumas fêmeas possuem de se procriar, sem precisar de machos para fecundá-las? Ele simplesmente aparece? Não dá gente...
Quem é autodidata, só não tem aula formal. Mas tem família, amigos, colegas que dividem o mesmo gosto por um assunto e, assim, estudam com maior ou menor frequência e facilidade. Os livros também são grandes fontes de pesquisa e conhecimento, apesar de não serem professores.
Vamos valorizar seus autores, citar seus nomes, indicar suas obras. Valorizar os professores, os amigos mais experientes que nos dão dicas maravilhosas, os colegas de estudo, com quem partilhamos a aprendizagem. Na interpretação do outro, sempre vemos algo que não veríamos sozinhos.
Os grandes inimigos do conhecimento, nos dias de hoje, são o excesso de informação, e a falta de didática, geradas pela desvalorização do ensino. E neste mundo onde os professores não são necessários, os assuntos não tem ordem, progressão, nem importância. Muito menos, abordagens que facilitem e estimulem a discussão, a compreensão e a assimilação.
Hoje, não tenho professor e sinto muita falta, mas sempre procuro os debates saudáveis e enriquecedores. Todos aqueles que passam em minha vida e, com amor, tentam me ajudar, orientar e alertar, considero mestres. Acredito que só as novas perspectivas, podem nos testar e fazer crescer.
Parabéns aos mestres! E aos meus mestres formais, mestres da vida e amigos que tanto me ensinam!
Até a próxima!!!
Toda vez que ouço alguém dizendo que não estudou para fazer algo, pois é autodidata, confesso que tenho náuseas. Pois isso afeta, muito, crianças e jovens que ouvem tal discurso e que, erradamente, querem fazer igual.
Todos somos autodidatas, ou seja, capazes de aprender observando ou, ainda, deduzir - chegar a conclusões, sem ter visto alguém fazer. A diferença é que, para cada um, será mais fácil determinado assunto ou tarefa, de acordo com sua maturidade, habilidade ou ambiente.
O fato é que ninguém consegue render e despontar numa atividade sem muito treino, prática e estudo. O que dizer então em várias... O refinamento vem da repetição correta, com técnica, cuidado e paciência. A vontade e a facilidade, de se aperfeiçoar dessa forma, é chamada de vocação.
Mas nem a vocação, nem o autodidatismo podem fazer ninguém chegar ao ápice, sem muito esforço. Então, essa postura de “mamãe sou gênio”, serve apenas de mau exemplo para as novas gerações, que já pensam que as coisas caem do céu.
Na grande maioria das vezes, esse discurso é uma forma brasileira de se mostrar superior, pois existe, infelizmente, na nossa malandragem, além do lado bacana de encararmos a vida sorrindo, o lado filho da puta de deixar que outros façam as nossas obrigações, já que somos merecedores.
Então, primeiramente, saibamos que existem os autodidatas e os que se dizem autodidatas. Depois, temos que pensar sobre o que é o autodidatismo no sentido citado. Aprender sozinho? Sem estudar? Sem estudar com alguém? Sem a ajuda de ninguém? Sem consultar livros? Difícil, né?
Ser autodidata, não é “não ter professor” e, sim, a capacidade de ter vários professores, de aprender com tudo e todos que nos cercam. A própria sociedade nos ensina, coisas boas e ruins, por isso, Vygotsky chegou a sua expressão: “O homem é produto do meio.” Contrapondo esta ideia, Piaget dizia que as bases biológicas são muito importantes e que a maturidade cognitiva de cada um, influencia no aprendizado.
É a maturidade, que nos dará a capacidade de observar, sobre vários prismas, um mesmo assunto. Compreender as entrelinhas de textos e os contextos de situações. Afinal, o conhecimento é uma espiral, onde sempre voltamos aos assuntos antigos, sob novo prisma.
Podemos aprender sozinhos, ter insights e sacadas. Mas isso aconteceria com um instrumento? O sujeito quer muito, de repente, enquanto passava numa ponte - Pum! O conhecimento o atinge? E o vocabulário? Como pode alguém que nunca estudou, dizer que a escala é uma Lídio b7?
Seria a partenogênese do conhecimento? A capacidade que algumas fêmeas possuem de se procriar, sem precisar de machos para fecundá-las? Ele simplesmente aparece? Não dá gente...
Quem é autodidata, só não tem aula formal. Mas tem família, amigos, colegas que dividem o mesmo gosto por um assunto e, assim, estudam com maior ou menor frequência e facilidade. Os livros também são grandes fontes de pesquisa e conhecimento, apesar de não serem professores.
Vamos valorizar seus autores, citar seus nomes, indicar suas obras. Valorizar os professores, os amigos mais experientes que nos dão dicas maravilhosas, os colegas de estudo, com quem partilhamos a aprendizagem. Na interpretação do outro, sempre vemos algo que não veríamos sozinhos.
Os grandes inimigos do conhecimento, nos dias de hoje, são o excesso de informação, e a falta de didática, geradas pela desvalorização do ensino. E neste mundo onde os professores não são necessários, os assuntos não tem ordem, progressão, nem importância. Muito menos, abordagens que facilitem e estimulem a discussão, a compreensão e a assimilação.
Hoje, não tenho professor e sinto muita falta, mas sempre procuro os debates saudáveis e enriquecedores. Todos aqueles que passam em minha vida e, com amor, tentam me ajudar, orientar e alertar, considero mestres. Acredito que só as novas perspectivas, podem nos testar e fazer crescer.
Parabéns aos mestres! E aos meus mestres formais, mestres da vida e amigos que tanto me ensinam!
Até a próxima!!!
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