quarta-feira, 3 de julho de 2019

Coluna de Junho de 2019 para o Jornal Portal

Tive um insight. Uma ideia especial. Algo tão legal que, na mesma hora, pensei em escrever aqui na coluna. Mas como estava no carro, levando minha filha à escola, acabei não tomando nota e nem gravando. Agora, trago essa sensação, nítida como no momento, mas não lembro do que se tratava...

Várias vezes, quando sento à frente do computador, as ideias vão sumindo, pulando para fora, se jogando noutros lugares e esvaziando minha cabeça. Acho que vão para os colunistas Ricardo Dias ou Marcelo Biar, não sei... É algo que, constantemente, acontece e gostaria de entender.

Nas “gravinas”, é comum brincarmos que: “gravando!” é “travando!”. Porque depois do tal aviso vem aquela paralisia imensa e aqueles erros bobos... Nas “guigues” ao vivo, quantos lapsos criam melodias, acordes e letras novas para músicas conhecidas, praticamente, nos tornando parceiros do compositor...

É lugar comum: na frente do professor, não há dúvidas. No médico, os sintomas não aparecem. No mecânico, o carro não apresenta defeito... É pegadinha? Porque isso acontece? Não seria bom compreender esses hiatos? Mas, pensando bem, acho que eles não têm a mesma origem.

As causas podem ser muitas, entre elas: o cansaço, a falta de concentração, o excesso de expectativa e de pressão, que abalam o psicológico, até mesmo, dos astros. E é fato: estar sendo observado, testado, vigiado ou, até mesmo, julgado, colocando em xeque o que somos, aumenta bastante o problema.

Obviamente, não é certo, inteligente, nem justo, julgar toda história de uma pessoa, por um momento da carreira onde houve um acerto ou um erro. Existem situações nas quais não se tem o menor controle ou influência. E o contexto, local ou global, influencia completamente em qualquer profissão.

Além das causas externas, naturais, sociais ou estruturais, estas, sanadas ao se trabalhar com profissionais qualificados, comprometidos e com salário digno, existem as internas, que não são eventuais, mas traços da personalidade e da educação, oriundas da falta de preparo, influência da soberba ou da falta de autoconfiança - duas pontas de uma mesma corda.

Enquanto uma tende a fazer análises superficiais, julgando que as coisas complexas são triviais; a outra, que também julga, supõe que tudo é demasiadamente complicado. A generalização não abrange os detalhes e essas duas faces da inconsciência, têm um quê de auto sabotagem.

A sedimentação técnica também é uma carência, já que para ocorrer, necessita de um número sem-fim de repetições, feitas corretamente, até que os elementos formadores da música se transformem em movimentos do corpo, tornando as ideias, impulsos medulares e mecânicos. Dino sete cordas é um exemplo disso.

Apesar de não ter sido o primeiro a tocar este tipo de violão, tornou-se sua maior referência, devido à linguagem que concebeu, utilizando técnica, conhecimento e criatividade. No entanto, depois de encomendar e adquirir o instrumento, ficou anos estudando em casa, tocando em público, apenas, o tradicional seis cordas, só se permitindo empunhar o sete, profissionalmente, depois de dominá-lo.

O domínio técnico faz os fãs pensarem que um “virtuose” pode ser bom em qualquer gênero, mas isso é um engano. Pois a preparação também inclui conhecimento da linguagem, clichês, referências, repertório fundamental do estilo... Se não for, através da vivência, há que se ter um estudo profundo, uma imersão muito bem feita, para que as lacunas sejam preenchidas corretamente.

É comum se pensar que tocar de improviso é criar algo totalmente novo, repentinamente, e isso é algo muito raro. Apesar do improviso ser um discurso não rascunhado, mesmo que se tenha uma boa retórica, é preciso conhecer, profundamente, o assunto sobre o qual vai se falar e dominar a língua, afinal, como seria possível discursar de improviso, num idioma desconhecido?

Todos os elementos que o improvisador utiliza, são frutos da sua experiência, do conhecimento da linguagem, das malandragens e “pulos do gato”, que estão nos detalhes, na capacidade de absorvê-los e somá-los às suas; e de encontrar um jeito próprio de expressá-los. É um compositor instantâneo e não um médium.
 
A palavra composição, entre muitas acepções, significa organização entre as partes de um todo. No que tange a criação, é criar uma colcha de retalhos, onde cada parte é tão conhecida, que pensamos ser nossa ou não ter dono.

Ao longo da jornada, temos contato com assuntos que nos causam maior interesse e, neles, nos aprofundamos, desenvolvemos e nos tornamos conhecedores. Mas isso não acontece a cada momento, em todas as nossas atividades, assim, vivemos de forma medíocre: entre as médias do mundo.

Já que não é possível ser bom em tudo, é preciso entender que isso é natural. Mas para estar acima dela, pelo menos no que nos mais interessa, é preciso querer se debruçar sobre os detalhes e saber que não existe um segredo escondido e, sim, algo que precisa ser construído, esmiuçado e sedimentado pela rotina.

E o mais inacreditável é ter ciência de que, na maioria das vezes, não estaremos disponíveis para a realização dos nossos próprios planos, preferindo um pouco de anestésico para esquecer os problemas e nos perdermos por aí.

Quer saber, vou dar uma relaxada... Até a próxima!

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