Marcos Paiva, meu amigo, compositor de mão cheia, letrou a melodia de um
partido alto, do saudoso Wilson Moreira, gravada por Zeca Pagodinho, no
disco Boêmio Feliz, de 1989, que no refrão, diz assim: “Vou te contar
rapaz, tem malandro enganando demais, no shopping samba o barato está no
cartaz...”
Em trinta anos, essa crítica ao samba, pôde ser
generalizada à todos os segmentos da vida humana. Entenda: não há nenhum
problema com um shopping que tem de tudo, a todo preço. Mas com o que
só tem os mesmos “abacaxis”, com preços baseados em seus embrulhos -
tenha dó!
Como sempre afirmo aqui na coluna, a humanidade sofre
de uma mazela seríssima: tudo virou mercado, desde o pão à medicina. E
esta maldição é contaminante. A urgência de um lucro, que justifica
qualquer meio, de fato, é responsável por um grande declínio na nossa
saúde física e mental, ou qualidade de vida.
Com a arte não é
diferente, afinal, ela é parte do mundo que vivemos, feita por pessoas e
para pessoas, que sofrem do mesmo mal. Por isso, entrou na dança,
tornou-se palatável, se adequou, encaixou e enlatou.
Tornou-se um
“café da manhã continental”, sem muitos condimentos ou temperos de
costume local, apenas: pão, ovo, salsicha, café, iogurte e mamão. Algo
que não representa nada específico de ninguém e de lugar nenhum...
Esta
crítica não é feita, apenas, aos que vivem de arte, mas, também, ao
gosto, da maioria das pessoas, por ela. Procuram, sempre, algo mais
simplório possível, com a desculpa de que precisam se desligar do
estresse e, por isso, não querem nada “pesado”, que as obrigue a pensar
ou refletir.
O problema já começa aí. Pois, é justamente o que é
capaz de nos envolver que pode nos fazer concentrar em outra coisa e
mudar o foco. Nos dando a oportunidade de voltar à vida cotidiana, com
outras perspectivas e percepções sobre nossos problemas e a forma mais
producente de solucioná-los ou lidar com eles.
O status “VIP”,
também é uma armadilha: serviços sem valor e custo alto; porcarias de
grife, xing ling, de embrulho lindo e logotipo bem grande; combo do
cinema, com pipoca de milho transgênico, glutamato monossódico,
refrigerante de glicose e preço de iguaria... Tudo, exclusivamente, para
todos que pagarem.
Para difundir esses conceitos, aproveitando
que os jovens de hoje, praticamente, fazem tudo pela internet, foi
criada a publicidade direcionada, que se utiliza dos próprios interesses
e histórico de pesquisas do usuário como base, para de forma
“espontânea”, impulsionar a engrenagem. É o tal do algoritmo.
É
preciso que se entenda, que não basta alguém dizer que alguma coisa “É”,
é preciso que ela, de fato, “SEJA”. E, assim, voltarmos a ter a certeza
de que não basta que as coisas nos sejam agradáveis, é mais importante e
necessário que nos façam bem. O mal que, hoje, nos assola é comparável
ao “paladar infantil”.
Nesse caso, devemos saber que nem sempre é
possível unir saudável e agradável, mas que o paladar também é formado,
ou seja, o que oferecemos às crianças, influencia na formação de seu
gosto, fazendo com que se acostumem e gostem de sabores que, a
princípio, não agradariam tão facilmente.
O gosto se transforma e
isso é comum. Porém, seguindo constatações estatísticas, se investe
pesado na produção de “alimentos” e de “arte” com a filosofia do
palatável, que facilita sua entrada, propagação e permanência no
mercado.
A indústria do entretenimento se farta. Oferecendo,
sempre, mais do mesmo, de olho nas “tendências”, criadas ou incentivadas
por ela mesma. Ganhando com o ciclo de oferta e demanda, que faz girar
com muita propaganda e ideias vazias, difundidas por seus “formadores de
opinião”.
Outra coisa que percebo, claramente, é a frequência
que, supostamente, deveríamos consumir esta arte “leve e sem
contra-indicações”: doses diárias ingeridas com álcool, para matar a
tristeza... - Minha gente! Qual o efeito de um cafezinho, em alguém que
toma muitos, todos os dias?
Para sentir efeito, é preciso uma
pausa. É preciso tempo. De nos permitirmos dar um tempo. Não fazer nada.
Não escutar nada. Ouvir o silêncio e, dele, nossos pensamentos.
Observando a natureza... Como disse Caetano Veloso, sobre o que sua mãe,
Dona Canô, mais gostava de fazer - contemplar a existência!
Daí,
com certeza podem vir as soluções. E não do ritmo frenético ao qual nos
habituamos a viver. Se há o lado bom, na velocidade em que poderíamos
resolver problemas, há o lado ruim, da quantidade em que se multiplicam.
Não se trata de uma crítica vazia à indústria, mas à maneira vazia de
usá-la.
Apesar disso tudo, na primeira oportunidade que têm, as
vítimas se utilizam dos mesmos pensamentos, argumentos e truques, para,
também, poder dar uma mordida e aproveitar enquanto é tempo, afinal,
carpe diem!
Se não prestarmos atenção e descermos do salto de
evoluídos e sofisticados, cairemos por terra, pois, em declínio já
estamos há tempos. Viver como se não houvesse amanhã é não fazer nada de
que possamos nos arrepender e, não, comer, beber e consumir
insaciavelmente...
É aproveitar o que a vida nos oferece, saber
aceitar as coisas boas e ruins, não perder tempo com mesquinharias, usar
o livre arbítrio para escolher ficar em paz, sintonizado em boas
frequências. Afinal, se cada um dá o que tem, só poderemos emanar boas
vibrações, se vibrarmos da mesma forma.
Até a próxima! Muita luz e paz!
Nenhum comentário:
Postar um comentário