quarta-feira, 4 de outubro de 2017

Coluna de Setembro de 2017 para o jornal Portal

No palco, basta fechar os olhos e as coisas vão acontecendo. Independente de nós. É claro, que o que se toca, se pratica e se interessa, está presente e possibilita que esse transe aconteça, mas tudo se desenrola num plano paralelo.
Como se nos tornássemos uma ponte entre o inconsciente e o mundo. E, nesse momento, não há dúvida de que este insconsciente é coletivo e que fazer esta conexão é a nossa função no formigueiro.
É curioso como as ideias parecem vir ditadas, as palavras saem da boca, mas são faladas por uma legião. Têm o peso da história, a força de conselho e a verdade de testemunho. A fonte da qual emana essa vibração, é do tamanho do cosmos, contém e está contida nele.
Os acordes, melodias e letras, simplesmente fluem. Se tentarmos lembrar ou pensar, erramos. Não é possível obstruir seu caminho sem atrapalhar, por isso, nos colocamos de lado, abrindo passagem. Como se fosse a voz do compositor, que também não era dele e ,sim, dessa energia.
A emoção toma conta, as mensagens que são mandadas arrepiam. E, por alguns momentos, tudo faz sentido. A vida, as dificuldades, os dilemas. Tudo se explica, se justifica. Estamos na hora e no lugar certo. Como é bom ter seguido este caminho, que se apresentou quando ainda não sabíamos o que seríamos na vida.
Qualquer profissão que nos escolhe é boa e pode dar esse prazer, é claro. Lutar pela sobrevivência, não nos impede de sentir realização e felicidade, mesmo que sejam caminhos paralelos, em algum momento poderemos escolher.
Às vezes, temos a sensação que ninguém presta atenção, mas isso pode ser sabotagem do ego, um artifício do lado negro para desconectar e quebrar a corrente, pois basta que a mensagem atinja um, como foi conosco.
Talvez, tenha sido o Grajaú, a pedra, as árvores e a terra. A mãe d’água, secular, que já banhou escravos, matou a sede de muitas gerações de plantas, bichos e gente. Ela... Ela pode nos ter despertado. Como a água, a “Força” é fonte que jorra noite e dia.
Dela vem o carisma, o encanto, a beleza e a comunhão com o público. O estudo, a técnica, o virtuosismo e o dom se esvaziam sem sua presença. Por isso, o artista precisa de concentração, para que este mundo venha ao seu encontro e suas habilidades se tornem passagem destas vibrações, que são a língua mais antiga do mundo, o elo entre o mundo e nós.
O ego muitas vezes tenta mudar a mensagem, atrapalhando sua passagem. Mas, o compositor é apenas um veículo com o qual o próprio universo se comunica com a humanidade. Por isso, cada canção, poema ou letra inspirados devem ser valorizados.
Somos antenas parabólicas, estamos conectados ao chão. A Terra nos conecta e a gravidade conecta todo o universo. Somos ligados pelo chão e o ritmo e a vibração mais fundamental. A fonte flui através de nós.

Até a próxima!